quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Bispo Negro



Impressões em Alexandre Herculano e seu Conto O Bispo Negro
       Produzido por Ailane Dias, Elka Viviana, Jamile Alves, Josafá Alecrim e Malane Apolonio
          Levando em consideração os conceitos que Alexandre Herculano traz para o início do romantismo, nota-se em seu conto O Bispo Negro (Lendas e Narrativas) um caráter crítico sobre fatos da Idade Media. Partindo deste pressuposto Alexandre Herculano demonstra em sua obra uma herança de suas experiências na Inglaterra e França.
Herculano nasceu em 1810, em Lisboa. Seu pai era cego, e por isso tinha dificuldades econômicas, não podendo assim manter o filho em uma Universidade, mas, Herculano foi, sobretudo um autodidata, o que talvez lhe tenha dado certa independência de juízos de valor. Por ter convicção da necessidade de reformas a vários níveis, como reforma educativa, administrativa, econômica e agrária, se envolve em conflitos sociais e acaba sendo exilado mais de uma vez. No entanto, ele não se deixa amortecer e constrói seu conceito de romantismo a partir de uma nova tradição literária, espiritualismo e associação da renovação literária e revolução política. Ele pretende dar ao seu romantismo uma tonalidade abrandada, de acordo com toda a ideologia cristã.
As obras de ficção de Herculano têm, com efeito, um entendimento cavalheiresco e passadista pouco congruente com o intento de criar uma literatura para a classe média, a classe revolucionária. Ele escreve O Bispo Negro (Lendas e Narrativas), referindo-se aos inícios da nacionalidade, e assim como Michelet, considera a tradição popular a melhor fonte para o historiador. Para ele, a história passa a ser uma procura cheia de significados e a tradição uma fonte rica de subsídios a contestar umas às outras deixando de ser recebida como um valor sacralizado.
Percebe-se no conto que Herculano exalta, sobretudo, a beleza dos princípios cristãos em sua obra, mostrando dessa forma o quanto se interessa tanto de forma positiva quanto de forma negativa pela figura eclesiástica. Sendo ele o primeiro a citar a figura religiosa dos padres no Romantismo com um possível espaço para indagações, ou seja, aberto para uma visão mais ampla, partindo de uma sensibilidade extrema aos valores do catolicismo, a estética da sua escrita demonstra um contraponto nos conceitos que tornavam a religião católica sagrada.
O poder exercido pela igreja mostra-se corrompido pela venda de indulgências, onde a devoção das pessoas nas crenças no catolicismo e no papa como enviado de Deus com poder para absolver ou excomungar estavam constantemente em luta pela imposição de poderes instituídos, ou seja, domínio Português versus Igreja

“Quê? Dom Bernardo amaldiçoaria aquele a quem deve o bago pontifical: aquele que o alevantou do nada? Vós, bispo de Coimbra excomungaríeis o vosso príncipe, porque ele não quer pôr a risco a liberdade desta terra remida das opressões do senhor da Trava e do jugo do rei de Leão: desta terra que é só minha e dos cavalheiros portugueses?.”( HERCULANO,1971 P.3)
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Herculano trouxe a habilidade de inserir  nos seus contos verídicos  aspectos ficcionais, deixando para o leitor  a possibilidade da dúvida, entre o real e o ficcional. E passar pela experiência do exílio mostra em O Bispo Negro certas heranças, pois é notória esta tradição em sua escrita. O fato de ter se afastado para a quinta de vale de lobos,em 1867, acabou iniciando um processo de mitificação. O seu isolamento no campo veio a se transformar num símbolo de protesto, visto como uma atitude ética e social

“Se a história se contenta com o triste espetáculo de um filho condenando ao exílio aquela que o gerou, a tradição carrega as tintas do quadro, pintando-nos a desditosa viúva do Conde Henrique a arrastar grilhões no fundo de um calabouço. A história conta-nos o facto; a tradição verossímil; e o verossímil é o que importa ao que busca as lendas da pátria” (HERCULANO, 1971 p.2).
Nota-se também que a presença de certa exaltação da paisagem local, pois Herculano narra com detalhes todo o ambiente em que o conto será contemplado como se fosse uma pintura a ser louvada.
 “Então, o luar, batendo nos lanços dos seus muros, dava um reflexo de luz suavíssima, mias rica de saudade que os próprios raios daquele planeta guardador dos segredos de tantas almas, que crêem existir nele e só nele, uma inteligência que as perceba.” (HERCULANO, 1971 p.1).
  No final do conto é notável a soberania que o domínio Português exerce sobre as regras impostas pelo Cristianismo, transcrita de forma hábil por Herculano que foi muito criticado por não acompanhar o progresso das ciências humanas e também a filosofia. Ter a sua obra voltada para o saudosismo e adoração ao cristianismo foi uma oposição a evolução do espírito humano durante o século XIX.

“Se tu, santo padre, viras sobre ti um cavaleiro tão bravo ter-te pelo cabeção, e a espada nua para te cortar a cabeça, tão feroz arranhar a terra, que já te fazia a cova para te enterra, não somente deras as letras, mas também o papado e a cadeira apostólica.” (HERCULANO, 1971 p.10).
As suas viagens em busca de uma reconstrução do passado histórico de Portugal foram de grande valia, pois trouxe a tona uma visão crítica de uma sociedade voltada para o mítico ou sagrado, podendo fazer suas obras direcionadas a denunciar um passado maquiado de belezas e justiças dos poderes instituídos anteriorment
Referencias:
HERCULANO, Alexandre. Lendas e Narrativas. O Bispo Negro. Editorial Verbo. São Paulo, 1971
REIS, Carlos e PIRES, Maria da Natividade. História e Crítica da Literatura Portuguesa. Alexandre Herculano e o Romantismo Histórico. Editorial Verbo.

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